Anorexia Espiritual

Assim como é a lei da vida natural, é também a lei da vida espiritual. Portanto, assim como a vida natural requer o crescimento e o desenvolvimento, fase após fase, desde o estágio de recém-nascido até a maturidade, assim também é a vida espiritual, o novo nascimento.   A humanidade tem sido vítima de um número desafiador de enfermidades, epidemias e transtornos que surgem, surpreendentemente,  e entram, sem pedir licença, em milhares de vidas. Esta é uma marca evidente de que estamos vivendo os dias finais da história, conforme o próprio Senhor profetizou, quando questionado sobre os sinais iminentes de Sua vinda: “haverá grandes terremotos, EPIDEMIAS e fome em vários lugares…” (Lc 21:11). Um dos transtornos mais ameaçadores neste século é a anorexia. Anorexia nervosa é o seu nome completo, e “ana” o seu cognome, como carinhosamente gosta de ser chamada. Para a psiquiatria trata-se de um transtorno alimentar caracterizado pela redução, ao máximo, da ingestão de alimentos, inspirado por um espírito obsessivo na busca de um corpo magro, e pelo medo aterrorizante de engordar. Muitas são as tentativas em explicar as causas. Todavia, basicamente duas delas são suficientes para clarificar a situação presente, uma vez que a anorexia é uma das doenças que mais crescem entre a população feminina do mundo. Em primeiro lugar, a anorexia tem o seu cordão umbilical ligado a uma sociedade obcecada por um padrão de beleza imposto pela mídia, em todas as suas vertentes. A massa populacional é influenciada por modelos magérrimas que desfilam nas passarelas e que posam, expondo os seus corpos para serem exibidos em revistas, formando assim, a opinião popular. São apresentadas ao público, nas telenovelas e seriados de TV, atrizes que se tornam arquétipos para um povo dominado por aquilo que vê, e não pela realidade do que, de fato, são. Daí, depois de terem suas mentes cativas, são alvos certos daqueles que, como bactérias oportunistas, surgem para oferecer os seus produtos, com a falácia de que os seus consumidores ficarão tanto quanto os protótipos apresentados pela mídia. Começa-se aí a maratona consumista na busca da conquista de um corpo perfeito. São produtos diets, personal trainer, produtos eletrônicos, cosméticos. É a industria da carne, da sensualidade e da vaidade. Em segundo lugar, temos o que a Bíblia sagrada diz a respeito do mundo caído: “nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência” (Ef 2:2). Refere-se ao governo de satanás, mediante o agir de demônios, que tornam as mentes escravas de suas imposições destruidoras. Eis a razão por quê, mesmo em estado esquelético, as anoréxicas consideram-se gordas, submetendo-se ainda mais a regimes absurdos, mesmo que ameaçadas de serem surpreendidas pela morte. São mentes que foram possuídas pelo demônio, as quais são carentes de libertação. Como a Bíblia Sagrada declara, a nossa luta não é contra carne ou sangue, mas contra principados e potestades nas regiões celestiais (Ef 6:12). Há, sem sombra de dúvida, um espírito maligno que atua nas almas humanas tornando-as doentes mentais, transformando meninas bonitas em verdadeiros monstros, zumbis, cadáveres. Não é de se estranhar que, semelhantemente, a mesma enfermidade e o mesmo espírito, atua no meio do povo de Deus. Há uma propagação silenciosa de que os cristãos não precisam, ou melhor, não devem, se alimentar do alimento espiritual que lhes dá vida. Disse Jesus: “O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; AS PALAVRAS que eu vos tenho dito SÃO ESPÍRITO E SÃO VIDA” (Jo 6:63). Em outro lugar, disse: “…Não só de pão viverá o homem, mas de TODA PALAVRA que procede da boca de Deus” (Mt 4:4). A anorexia espiritual é caracterizada pela abstinência da palavra de Deus como alimento para o homem espiritual. Tal enfermidade é a principal dentre todas as demais, e a causa de todas elas. E os seus efeitos podem ser percebidos sem qualquer esforço, na aparência cadavérica dos corações cristãos destituídos do conhecimento de Deus. Como está escrito: “O meu povo está sendo destruído , porque lhe falta o conhecimento…” (Os 4:6). O estado de desnutrição espiritual do povo de Deus é patente. São multidões e multidões que buscam por prosperidade material, enquanto suas almas, em estado de calamidade, clamam por qualquer alimento. Prosperidade material é a dieta da alma, pois não se pode servir a dois senhores. Os que buscam o material em primeiro lugar, não podem ter ao mesmo tempo o reino de Deus e a Sua justiça (Mt 6:24 e 33), ao passo que os que buscam em primeiro lugar o reino de Deus e a Sua justiça, não andam preocupados com o que haverão de comer ou vestir amanhã (Mt 6:31-32). Há, sem sombra de dúvida, um espírito maligno enganando o povo de Deus. Oferecendo-lhe bênçãos materiais, tornam suas almas destituídas das verdadeiras riquezas de Deus. Por isso está escrito: “pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és, infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Ap 3:17). A vida cristã é muito mais que filosofia ou religião. A vida cristã é uma questão de existência espiritual, de novo nascimento. Não se pode entrar no reino de Deus se não nascer de novo, disse Jesus a Nicodemos (Jo 3:3). É preciso nascer da água e do espírito (3:5). É preciso ter o próprio Deus como vida habitando o nosso espírito humano (Rm 8:9), de maneira que sejamos feitos filhos de Deus (Jo 1:12), e deixemos de ser meras criaturas (Mc 16:15). Este novo nascimento é efetuado em nós mediante a palavra de Deus que nos regenera, como está escrito: “Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. Pois toda carne é como erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor; a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente. Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada” (I Pe 1:23-25). Esta Palavra é o próprio Cristo como o Verbo de Deus, cuja vida estava nele (Jo 1:1:1 e 4), como o apóstolo João declarou: “e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada” (I Jo 1:2). Deste modo, “todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus…” (I Jo 5:1) e faz parte da família de Deus (Ef 2:19). Todavia, assim como é a lei da vida natural, é também a lei da vida espiritual. De modo que a vida espiritual é a realidade da vida natural, e a vida natural é , tão somente, o reflexo da vida espiritual. Portanto, assim como a vida natural requer o crescimento e o desenvolvimento, fase após fase, desde o estágio de recém-nascido até a maturidade, assim também é a vida espiritual, o novo nascimento. No início de nossa vida espiritual, quando no princípio cremos no Senhor e fomos batizados, éramos como crianças recém-nascidas que necessitam do genuíno leite espiritual, que dá o crescimento para os primeiros anos da vida cristã (I Pe 2:2). Todavia, não podemos continuar na seqüência de nossa existência espiritual tomando apenas o leitinho, pois “todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança” (Hb 5:13). É necessário buscarmos o crescimento que nos levará à maturidade (Hb 5:14), “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para o outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia dos que induzem ao erro” (Ef 4:13-14). Há três fatores que possibilitam a propagação da anorexia espiritual: 1) A infidelidade dos sacerdotes: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não seja sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos” (Os 4:6). Eis aqui uma razão e uma denúncia. A razão pela qual o povo de Deus está sendo destruído é a falta do conhecimento de Deus. Por essa razão, Deus denuncia os sacerdotes por terem rejeitado o Seu conhecimento e se esquecido de Sua lei. Ora, se nos dias do antigo testamento os sacerdotes tinham o papel de ensinar a vontade divina ao povo, através do culto cerimonial realizado no templo, hoje, na era do novo testamento, temos os bispos, nas igrejas locais, como está escrito em Atos 20:28: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue”. “Porque é indispensável que o bispo seja…apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem” (Tt 1:7 e 9). Todavia, os bispos, aqueles que possuem a responsabilidade de pastorear a igreja de Deus, a qual foi comprada pelo precioso sangue de Cristo, têm rejeitado o conhecimento e se esquecido da Palavra de Deus. São pregadores que ministram segundo as suas próprias cobiças, supondo que a piedade é fonte de lucro (I Tm 6:3-5) e, movidos por avareza, usando de palavras fictícias, fazem comércio de almas humanas (2Pe 2:3; Ap 18:13). Deste modo, como podem os filhos de Deus receber o suprimento necessário, se os despenseiros de Deus estão espancando os seus conservos e comendo e bebendo com os ébrios? (Mt 24:45-51). 2) A negligência dos cristãos: “A esse respeito temos muitas coisas que dizer e difíceis de explicar, porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir. Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de que alguém vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido” (Hb 5:11-12). Não bastando a infidelidade dos líderes, há também a negligência dos cristãos. Esta é uma responsabilidade individual. O texto de Hebreus declara que os filhos de Deus se tornaram tardios em ouvir. Estes, estagnaram em suas vidas espirituais, de modo que, quando deviam ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, são como crianças; ou seja, são adultos na idade, porém atrofiados e subdesenvolvidos no crescimento. Isto chega a ser uma anomalia no corpo de Cristo. E tudo isso devido à negligência de muitos que não valorizam a palavra de Deus, antes, pelo contrário, procuram mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceiras nos ouvidos, a fim de ouvirem uma mensagem ideal para o seu bem-estar carnal (2Tm 4:3). Estes se recusam a dar ouvidos à verdade e acabam por se entregar às fábulas (2Tm 4:4). 3) A escassez da Palavra de Deus em decorrência de uma era de homens infiéis: “Eis que vêm dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre a terra, não de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor. Andarão de mar a mar e do Norte até ao Oriente; correrão por toda parte, procurando a palavra do Senhor, e não a acharão” (Am 8:11-12). Esta é uma sentença profética do Senhor em virtude da infidelidade do povo de Deus. Assim como nos dias de Elias, o povo do Senhor andava em extrema rebelião contra o Altíssimo, e por isso houve fome sobre toda a terra, de modo que nem orvalho caía do céu, assim também nos últimos dias. A infidelidade do povo de Deus ao longo das eras, a negligência da igreja em relação à Palavra, tem legado uma era de escassez aos que vivem nos últimos dias. Portanto, se percebe claramente quanto os cristãos precisam urgentemente de alimento sólido, a fim de nutrir seus corações, espírito, alma e corpo, de modo a serem encontrados irrepreensíveis no dia da vinda do Senhor Jesus Cristo. Pois, somente alimentando-nos de Cristo teremos a transformação de nossas almas, assim como o corpo físico sofre transformação metabólica pelo alimento material que comemos.

Por Bispo Alexandre Rodrigues

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