CRIATURA, CRIATURAS E FILHOS DE DEUS

PERGUNTAS: 1) qual a diferença entre criaturas e filhos de Deus? 2) Por que Jesus ordenou que se pregasse o Evangelho a toda criatura, a fim de que estas, uma vez recebendo-o, fossem feitas filhas de Deus? NOTA: a resposta a essas perguntas será dada passo a passo. De sorte que, será na somatória dos pontos que serão apresentados que se obterá solução a contento. RESPOSTAS: 1. TODAS as existências são criaturas de Deus, uma vez que o termo criatura significa “todo ser criado”. Ora, se todas as existências foram criadas por Deus, logo TODAS são suas CRIATURAS, pressuposto que inclui os homens. 2. Há diferença entre criatura e criatura: há criaturas infra-humanas e criaturas humanas. 2.1. As criaturas infra-humanas são desprovidas de alguns atributos, próprios dos homens – criados à imagem e semelhança de Deus –, o que as fazem ser meras criaturas: 2.1.1. As criaturas infra-humanas possuem a vida de Deus como causa de suas existências (Jo 1:1-4); entretanto… 2.1.2. Elas nunca hão de chegar a um nível de INTELIGÊNCIA HUMANA, razão por que suas “inteligências” ou são mecânicas – no caso dos minerais –, ou são vegetativas – no caso dos vegetais –, ou são instintivas – no caso dos animais. 2.1.3. Elas não possuem ESPIRITUALIDADE, isto é, não possuem espírito, assim como não possuem fé, não lhes sendo possível, pois, servir ou buscar a Deus, tampouco conhecê-lo, a saber, possuir vida eterna (Jo 17:3); 2.1.4. Elas não possuem LIBERDADE DE ESCOLHA; são seres fadados a serem “eternamente” sempre os mesmos, desprovidos de qualquer possibilidade de evolução ou mudança. 2.2. As criaturas humanas foram criadas dotadas de alguns atributos que lhes são exclusivos, quando comparadas às criaturas infra-humanas: 2.2.1. Elas possuem CAPACIDADE INTELECTIVA, isto é, capacidade de discernimento do mundo em torno de si, de conhecimento de si mesmo e de Deus; 2.2.2. Elas possuem espírito humano e o dom da fé, a qual faz do Homem um ser ESPIRITUAL (Zc 12:1; Ef 2:8). NOTA: A INTELIGÊNCIA e a ESPIRITUALIDADE são fatores primordiais no que tange a diferenciação entre meras criaturas e criaturas-filhas-de-Deus, pois elas são, em termos e respectivamente, a capacidade da criatura de conhecer a si mesma e a Deus, e a capacidade da criatura inteligente de crer em Deus, a fé – atributos exclusivos dos humanos. Por isso, afirma o apóstolo Paulo que “de um só fez Deus toda a raça humana, PARA BUSCAREM A DEUS…” (At 17:26-27). Razão por que não se vê nenhuma criatura infra-humana buscando a Deus, ao passo que, todos os homens, em qualquer tempo ou lugar, sempre buscaram conhecê-lo, embora o façam tateando. 2.2.3. Elas possuem LIVRE ARBÍTRIO. Refiro-me neste ponto ao atributo da vontade e da escolha, o que as tornam diferentes dos animais. Estes não modificam o mundo nem suas próprias existências. São seres meramente instintivos que têm o mundo como suporte de mera sobrevivência. Os homens, por sua vez, são livres para criarem hábitos e os modificar, para transformarem o mundo em torno de si, para decidirem seus caminhos, para buscarem ou não a Deus. Esses três aspectos tornam os homens distintos das demais criaturas, infra-humanas, razão porque estas são tão somente criaturas e não podem ser chamadas filhas de Deus, pois não foram feitas à imagem e semelhança de Deus. NOTA: O arbítrio é atributo dos seres inteligentes. Mediante a livre-agência, podem os homens decidir seus caminhos, razão por que o antigo e o novo testamento estão repletos de apelos para que os homens se voltem ao Criador. Se eles não pudessem escolher, não fariam sentido tais apelos. Quanto, entretanto, à soberania de Deus – no que se refere à eleição – é certo que esta não está para os homens, pois trata-se, neste particular, de uma ação e revelação do Espírito acerca do Cristo encarnado – O MISTÉRIO DE DEUS (1Co 2:7-10), do mesmo modo que não está para o homem a apreensão dessa revelação sem a intervenção do Espírito de Deus. Fora desse supremo propósito, que INCLUI SOMENTE OS ELEITOS, prevalece a livre-agência humana de escolher seguir ou não à Luz, conforme a revelação comum dada a toda a humanidade (Rm 1:19-20).   3. TODOS OS HOMENS são, não somente criaturas de Deus (pois por ele foram criados), como são também seus filhos. Essa verdade é afirmada e reafirmada muitas vezes nas escrituras: Mt 23:9; Lc 3:38; Lc 15:11, 13, 20, 24; At 17:28-29; Gl 4:6; Ef 3:14-15; 4:6, dentre outros. 4. A partir do momento em que o Homem atingiu o estágio do conhecimento, manifestando assim o atributo da livre agência, ele caiu, afastando-se da fonte da vida para viver por si e para si mesmo (Jr 2:12-13). Daí os atributos que lhes faziam diferentes das demais e meras criaturas perderam o sentido. O Homem embruteceu-se em relação a Deus (ao propósito para o qual fora criado) e perdeu a posição de filho. Ele passou a viver errante e ignorante com respeito à sua identidade e com respeito ao Pai. Por esse motivo, e somente nessas circunstâncias, o homem decaiu, posicionalmente, passando a viver como mera criatura, posto que sejam filhas de Deus. 5. Quando nas escrituras encontramos termos, referindo-se ao homem caído, tais como “filhos do diabo”, ou “filhos das trevas”, ou “filhos do inferno”, ou “filhos da ira”, não se deve entender a palavra FILHO no sentido ontológico, senão no sentido metafórico, pois como poderiam ser filhos do inferno, filhos das trevas, filhos da ira, filhos do diabo, no sentido próprio do ser? Pode porventura o inferno gerar filhos? É-lhes natural que as trevas concebam filhos? Como poderia ser, se as trevas em si mesma nada é, sendo antes o absoluto do nada, mera ausência de luz? Pode, porventura, a ira procriar-se e gerar filhos? Menos ainda podem os homens caídos ser filhos do diabo, no sentido próprio da palavra, uma vez que este é mera criatura e que nada pode criar. O sentido de filhos nessas citações só é possível de ser entendido de modo conotativo. Uma vez que esses são também chamados de filhos da desobediência, compreende-se que, como tais, são herdeiros de todas as consequências do afastamento de Deus: herdeiros das trevas, da ira, da consciência maligna, da morte. 6. Essa é a razão por que Jesus mandou que se pregasse o Evangelho a toda criatura, ou seja, ordenou que evangelizassem os homens separados da Vida em suas consciências, os quais, embrutecidos, viviam “nulos em seus próprios raciocínios, obscurecidos no coração e loucos no entendimento” (Rm 1:21-22), e que manifestavam uma “sabedoria” animal, terrena e demoníaca (Tg 3:14-15). Afinal, todos se extraviaram, tornaram-se inúteis e desconheceram o caminho da paz (Rm 3:12). Esses fatores da queda fizeram-nos “semelhantes” a meras e simples criaturas, carentes de serem iluminados, a fim de retomarem a consciência perdida e o caminho de volta à casa do Pai. 7. O retornar à casa do Pai é o “RENASCIMENTO DO FILHO”. Quando Paulo disse aos Efésios “Ele vos deu vida”, NÃO QUIS DIZER, certamente, que o homem não possuía a Vida divina nele (Ef 4:17-18). Antes, como Paulo bem explicou, a frase “Ele vos deu vida” significa que Cristo levou o homem de volta, juntamente com ele, para o desfrute da Vida, conforme dito por Jesus na parábola do filho pródigo: “este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado” (Lc 15:24). 8. Antes, pois, do filho pródigo cair em si, encontra-se ele na posição de criatura. Somente quando volta à consciência e à casa do Pai é que lhe é posto nova veste, sandálias nos pés e o anel de autoridade no dedo, símbolos da posição recuperada de verdadeiro filho de Deus. Daí as palavras do apóstolo Paulo: “E, PORQUE SOIS FILHOS, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!” (Gl 4:6). Nesse último texto, três preciosas verdades são postas em evidência: a) o fato de serem FILHOS os que recebem a ADOÇÃO DE FILHOS (autoridade de filho), o que ratifica todo o entendimento supracitado; b) “o Espírito de seu Filho”, que traz de volta a consciência daquilo que o Homem é de fato em Deus; e, c) o clamor do ESPÍRITO DO FILHO EXCELENTE DE DEUS, que, uma vez recebido, leva o iluminado a declarar a paternidade divina: Aba, Pai! Ou seja, é o próprio Logos (Vida/Luz – Jo 1:4) que leva o homem ao conhecimento de quem ele é e de quem Deus é: filho e Pai, respectivamente. Enfim, o filho que se tornou posicionalmente mera criatura, volta à posição de filho de Deus pela pregação do Evangelho, o qual é pregado a toda “criatura”. Alexandre Rodrigues

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